“O transporte rodoviário sempre será preferido e prioritário no Brasil, mesmo com a expansão de outros modais, como o ferroviário e o hidroviário”. A avaliação é do diretor financeiro adjunto da Associação Comercial e Industrial de Chapecó (ACIC), empresário Lenoir Gral.
Gerente de logística da Transportes Gral Ltda., foi vice-presidente do Conselho Deliberativo da ACIC, e foi também patrão do CTG Coxilha do Quero-Quero. Atualmente é integrante do conselho da Associação Brasileira de Transporte Internacional e é sócio-proprietário das empresas: Transporte Gral e Abastecedora Gral.
Conte um pouco de sua trajetória pessoal e profissional:
Lenoir Gral – Nasci em 16/10/1966 no interior de Caxambu do Sul (na linha Barra do Gavião). Meu pai tinha um armazém de secos e molhados que vendia de tudo, alimentos, remédios para pessoas e animais, roupas, fumo e cachaça.
Com o passar dos anos, meu pai passou também a comprar e revender produtos dos próprios colonos, como feijão, milho, soja, queijos, e também animais, como suínos e galinhas.
Em 1986 fomos residir em Chapecó, mais precisamente no Bairro Jardim América, onde fixamos residência e instalamos a empresa que, já nessa época era apenas de transporte.
Atuávamos no transporte de cargas nacional, sendo ainda uma parte fichada na Sadia e outra já com transportes diversos. Contava, nessa época, com onze caminhões truck e somente uma carreta.
O ano de 1994 obtivemos a licença para transporte internacional para a Argentina, quando então começamos a aumentar a frota a fim de atender a demanda existente no mercado.
A frota foi crescendo e com isso tornou-se necessária a mudança para uma nova sede, maior e com mais condições de trabalho no que diz respeito principalmente às manutenções dos veículos. Assim, em 1998 mudamos para o atual endereço, na Rua São Pedro, 2850-E, Bairro Engenho Braun, em Chapecó.
Após a mudança, novas permissões foram sendo obtidas para o Uruguai em 1996, Chile em 1999 e por fim o Paraguai em 2005. A empresa consolidou-se definitivamente no transporte internacional de cargas e, por conseguinte, necessitou renovar e aumentar consideravelmente a frota, já que o nível de exigência do mercado passou a ser maior.
Hoje a Transportes Gral Ltda está consolidada no segmento de transporte internacional de cargas, possuindo uma frota de carretas frigoríficas, equipadas com mecanismos de segurança exigidos pelas normas de segurança e pelos clientes, oferecendo assim um transporte seguro e eficiente a todos os seus clientes.
A empresa conta com um quadro amplo de colaboradores, sendo a grande maioria motoristas. Os sócios (os 6 irmãos) são responsáveis por departamentos gerenciais da empresa, ficando na figura do pai Etelvino o comando geral da empresa.
Tenho uma filha, Cristina, que já é formada em Administração e que já trabalha na empresa, no departamento financeiro, seguindo os passos do pai.
E as pessoas que estão sempre presentes dando exemplo de dedicação e amor são os meus pais, Etelvino Gral e Constantina Gral, que nos protegem e nos ensinam muito todos os dias.
O transporte rodoviário é uma modalidade economicamente cara e ambientalmente nociva em face de outros modais mais baratos e ecológicos. Na sua opinião, qual será o futuro do transporte rodoviário no Brasil?
Lenoir Gral – O transporte rodoviário mesmo sendo caro, somente tem a crescer, pois consegue atender todas as necessidades dos clientes e chega a todas as regiões.
Pode ser mais poluente e prejudicial a saúde, mas as grandes companhias já estão fazendo veículos ecologicamente corretos, que emitem menos poluentes, mas em relação aos outros modais, só tem a crescer, ainda com os incentivos para compra o transporte rodoviário cada vez vai ganhando novos caminhões nas rodovias, ou seja, aumentando a frota.
Outro fator que dificulta os modais mais baratos e ecológicos são as leis ambientais que impedem o crescimento das ferrovias, dos transportes marítimos e aquaviários. Hoje o transporte ferroviário não é mais tão barato, ele tem se tornado caro, já que não atende todas as regiões do Brasil.
Quais são as obras rodoviárias essenciais e urgentes em Chapecó e no oeste de SC, na sua opinião?
Lenoir Gral – Acredito que precisamos terminar nosso acesso até a BR 282. Fazer a duplicação do contorno Leopoldo Sander. Estudar a duplicação de toda a BR 282 a BR 470.
Um anel viário, com três ou quatro pistas, com acostamento. Precisamos fazer obras pensando no futuro e não obras que já iniciam ultrapassadas.
Como o senhor avalia a condição das estradas do país? De que forma elas afetam a economia regional?
Lenoir Gral – Hoje, não temos rodovias em condições de escoar nossa produção e a cada mês aumenta a quantidade de veículos que entram nas estradas e as estradas não comportam tal aumento. Temos rodovias onde tem pedágios com valores absurdos.
Num comparativo em algumas viagens se gasta mais em pedágios do que em combustível. Isso esta tornando inviável para alguns segmentos, por exemplo, as agroindústrias da nossa região estão com sérios problemas com estes custos elevados.
A duplicação e revitalização da BR-282 representam uma luta constante de vários setores da sociedade e uma bandeira levantada permanentemente pela ACIC. Como o senhor, que atua no setor de transportes e vivencia os problemas decorrentes da atual situação em que essa rodovia se encontra, avalia essa necessidade?
Lenoir Gral – Já faz tanto tempo que se comenta sobre a BR 282, mas não acontece nada para sua melhoria. Isso é um desrespeito com as empresas e as pessoas que dependem desta rodovia.
A ACIC faz seu papel cobrando e reivindicando, mas as autoridades pouco fazem pelo que arrecadamos de impostos, isso sem falar em vidas que todo o dia se perdem da BR 282.
Atualmente vivemos um momento acelerado de inovação tecnológica. Como o setor de transporte e logística vem se preparando para continuar competitivo e eficiente?
Lenoir Gral – Infelizmente temos dificuldade em contratar profissionais que acompanhem esta evolução, tanto para trabalhar com os caminhões modernos com alta tecnologia, como nos equipamentos de refrigeração e rastreamento.
A cada ano temos menos motoristas para fazer viagens de longo percurso, ambos estão resistentes a mudança e as novos desafios.
Além da frota sempre renovada, os motoristas também são uma preocupação constante da empresa, já que estão conduzindo um patrimônio significativo sob sua responsabilidade e tem a função principal de bem entregar as mercadorias contratadas no frete. Essa entrega deve sempre ser em tempo hábil e sob boas condições.
Para tanto, a empresa está permanentemente preocupada em qualificar e treinar esses profissionais, visando com isso aumentar a eficiência e diminuir os riscos de acidentes.
Qual a avaliação que o Sr. faz da nova lei do motorista? É verdade que ela encarecerá em 30% os custos gerais dos transportes?
Lenoir Gral – só esta dificultando ainda mais o setor pela complexidade de sua aplicação. Não temos ponto de parada seguro para os motoristas com área de lazer, banheiros, cozinha, enfim, o mínimo de condições de conforto e segurança. Com certeza os custos vão aumentar de 30% a 35%, e quem vai ter que pagar a conta mais uma vez será o consumidor.
Ela terá efeitos positivos ou negativos no controle da violência e da mortandade nas estradas brasileiras?
Lenoir Gral – Com a nova lei, pode até diminuir os acidentes se houver efetivo da Polícia Rodoviária Federal controlando e fiscalizando as rodovias diariamente. Mas, por outro lado, sem melhorias nas rodovias, cada dia mais vidas vão se perder.
Não é só o motorista de caminhão o causador de acidentes. Hoje a mídia dá muita ênfase ao motorista de caminhão, mas os grandes causadores de acidentes, na verdade, são álcool e a velocidade. E os acidentes dos finais de semana, na grande maioria resultam da imprudência de motoristas de automóveis e não de caminhões.
O Sr. considera excessiva a tributação incidente sobre o setor dos transportes rodoviários de cargas? Por quê?
Lenoir Gral – Na realidade, no Brasil de hoje todos os segmentos sofrem com a alta carga tributária. Poderíamos pagar esta carga que hoje é cobrada, mas teríamos que ter o mínimo de segurança nas rodovias. Um exemplo: nossa empresa neste ano já teve quatro caminhões e cargas roubados e não temos a quem recorrer para rever esse prejuízo.
O oeste de SC reivindica uma ferrovia ligando Chapecó ao centro-oeste brasileiro para transportar os grãos necessários às agroindústrias catarinenses.
Como o Sr. vê essa obra?
Lenoir Gral – Precisa ser feito algo para facilitar a chegada da matéria-prima para as nossas agroindústrias. Mas quando vai sair do papel a tão sonhada ferrovia? Sabemos que isso vai levar ainda muitos anos, pois requer uma grande mobilização e conscientização de que é o melhor para a nossa região.
Outra obra necessária é a ferrovia ligando o oeste aos portos catarinenses para escoamento da produção agroindustrial.
Lenoir Gral – Precisamos da ferrovia, até mesmo para diminuir os caminhões nas rodovias e diminuir os custos dos produtos, ficando mais competitivos nos mercados estrangeiros.
Se as duas ferrovias forem construídas, o transporte rodoviário passará a ter uma configuração regional?
Lenoir Gral – Acredito que não, porque as ferrovias vai nos ajudar mais para as exportações e no fluxo de grãos do Mato Grosso. As cargas para o mercado nacional e de longa distancia continuarão dependendo do caminhão.
Como o Sr. avalia e que sugestões pode dar ao sistema rodoviário de Chapecó nos quesitos de vias expressas, contornos, terminais de cargas etc?
Lenoir Gral – Precisamos pensar em longo prazo e fazer um grande anel viário, tirando todos os caminhões que hoje circulam pela cidade. Construir um corredor somente para ônibus, facilitando o trabalhador a chegar em seu local de trabalho.
Fazer a duplicação do acesso até BR 282, a duplicação da Leopoldo Sander e da rua São Pedro. Algumas vias próximas ao centro devem ser transformadas em mão única.
Terminais de cargas devem ser instalados próximos da cidade. As entregas devem obedecer a horários pré-determinados para evitar fluxo de caminhões no centro da cidade.
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